maio 17, 2012
outubro 30, 2010
The Lurker and the emptyness (learning to cope with solitude)
Durante alguns anos minha mãe esteve encantada com o conceito de marketing de rede. Em função disso investiu consideráveis recursos e tempo, criando seu grupo de contatos e vendas. Ela achava que, realmente, a coisa funcionava. Bem, sabe-se que não funciona, ou pelo menos não o faz como seus promotores dizem. Mas as promessas de futuro que são feitas são muito tentadoras, acompanhadas de evidências de sucesso através de depoimentos das pessoas que “chegaram lá” e é difícil escapar à sedução. Como em relatos de pessoas que deixaram seus empregos formais (chamados com algum desdém, de "plano A") para seguir os caminhos tranquilos do “plano B”, pavimentado por fabulosas comissões que cresceriam na proporção das vendas da rede. Vá se entender.
O sujeito que era responsável pela parte superior da rede que minha mãe “habitava” era uma pessoa em quem eu via uma arrogância velada, de quem se compraz com uma certa servitude de seus subordinados. Sua esposa, que também participava do negócio, seguia a mesma risca. O tal cavalheiro tinha uma frase com a qual encerrava as reuniões da grande rede. Sim, como você certamente depreendeu, eu comparecia às reuniões, conquanto jamais tenha ombreado ou trabalhado para a organização, tendo em vista que sempre achei que a coisa era filosoficamente questionável em suas idiossincrasias. Mas mãe é mãe e eu a acompanhava, mesmo a contragosto. O tal sujeito tinha, como eu dizia, uma frase; um bordão: “Nos vemos nos aeroportos do mundo!”. Então, tá...
O tempo passou, a tal da rede não ia para onde os caras prometiam (que surpresa) e a turma do “plano B” estava derivando novamente para o “plano A”. Nesta ocasião eu vim a trabalhar em uma atividade que me colocava para voar um bocado. Chegando mesmo a até seis vezes por mês, e pelo Brasil todo. E toda vez que ligava para minha mãe, do aeroporto onde eu chegasse, dizia ao telefone: “Mãe, cheguei. Eles não estão aqui. Marcaram e furaram de novo!”. Isso nos divertia, pois a essa altura as não poucas falhas do sistema já estavam claras para ela também. Conquanto estivesse afastada do esquema, ou talvez por causa disso, esse negócio nos divertia e nos fazia rir. E essa piadinha se tornou um hábito nas nossas comunicações, nos momentos em que eu dava a saber que havia chegado bem.
Hoje, ao entrar em um aeroporto pela quarta vez em três dias, sentindo a familiaridade de quem toma a direção de casa, atropelou-me a necessidade de pegar meu telefone para avisar minha mãe que eu já ia embarcar. A nossa brincadeira, então, me veio imediatamente à memória: “preciso fazer a graça de sempre”, pensei... mas minha mãe não está mais lá. Não existe mais com quem brincar. A sensação de ausência fez-me imensa... Com o que se preenche um vazio deste tamanho?
The Lurker Says: “When we truly realize that we are all alone is when we need others the most” (Ronald Anthony)
agosto 11, 2007
Eu sou de um tempo em que viajar de avião era quase um evento social. Algumas pessoas mais conservadoras ainda usavam roupas domingueiras para a viagem, que se constituía em um momento esperado e, até certo ponto, especial em sua natureza. Verdade que não havia mais o charme de um you're part of his work, the thing that keeps him going… mas um certo encanto subsistia, preso nos envelopes com o timbre dos tickets aéreos, nos quais se podia ainda ler a convenção de Varsóvia. Eram tempos de pratos de louça e talheres de aço, estampados com o logo

Malgrado meu, vôos em turbo hélices contaram-se poucos para mim, nestes tempos em que o comandante recebia um tratamento de capitão de transatlântico, respeitado pelas vidas que levava em suas mãos. Atualmente já os ouvi serem chamados de “motoristas” de um grande “ônibus com asas” (sic). Nessa minha época, o circunstante que embarcasse em um aeródromo, seria respeitado pelas “equipagens” tanto em terra quanto embarcada. Atendido cortesmente em sua condição de “pessoa em trânsito”, tesourinhas de unha não se constituíam em instrumentos do terrorismo internacional, carimbados pelo "eixo do mal". Por um eventual esquecimento dos amantes da lei de Gérson, não existiam passagem de graça “por bom comportamento”. Não havia sala vip, mas você embarcava, decolava e chegava mais ou menos no horário, pendendo o clima, e no aeroporto apresentado em sua passagem. Pampulha era nome de aeroporto. Aplaudia-se o piloto na aterrissagem, quando o avião tocava o solo.
Eu gosto de viajar. A trabalho, inclusive. Tenho mais horas de vôo que muito piloto iniciante por aí (verdade que isso me ensinou a decolar nem avião de simulador). Achava que já tinha visto quase tudo neste campo... Silly rabbit.
Como já seria de se esperar, o “caos aéreo”, este termo cunhado para representar todas as ignomínias que se impingem aos viajantes hoje, me presenteou com mais um choque de realidade. São duas e meia da manhã em Salvador. Saí de Brasília com duas horas de atraso, de um vôo que deveria decolar às 20h40. Eu SEI que o avião para Maceió vai ficar preso pelo tempo e não vai descer tão cedo no 2 de julho nem que “painho” fale com São Pedro. Os minutos de frio se arrastam e não existe um funcionário de terra da companhia aérea. Então, me esclarece, por que não me mandam logo para o hotel? O vôo deveria ter saído daqui a mais de uma hora, a previsão é para amanhã, e o aeroporto continua fechado.
Não peço muito... não faço questão do ticket de sandwich para um Bauru e coca “grátis”, para saciar minha fome na lanchonete modorrenta, onde o atendente sonolento preparará o alimento com as alfaces murchas de ontem. Não quero “bufandas ni paraguas”. Eu só quero dormir e um tratamento minimamente de gente. Um dry martini seria um bom começo. Here´s looking at you, kid.
The Lurker Says: Those who would give up essential liberty to purchase a little temporary safety, deserve neither liberty nor safety (Benjamin Franklin)
junho 04, 2007
Eis que sou novamente catapultado, desta vez à Lutécia. A viagem, que já foi indicada de surpresa e aceita com receios, restrições, senão reprovações, começou lembrando-me do porque tenho evitado os inventos de Santos Dumont nestes tempos: resistance is futile - you´ll be assimilated. Ça veut dire qui... les avions ne marchent pas. Ou seja, para chegar de BSB a GRU a viagem ganha mais de uma hora de chão, esperando no Santa Genoveva que o tráfego aéreo na capital paulista volte a ter cara de gente. On y va.
Naturalmente, sempre existe um consolo. E heis que meu querido boteco de Guarulhos continua alive and kicking desde minha visita em 05 de janeiro de 2005. Bem, kickig o suficiente para uma "Sout" da Baden Baden e o renomado "Atum com Atum". E eu que não sou chegado nessas coisas antes do vôo rendo-me às evidências: para voar no Brasil, tem que tomar alguma coisa antes.
O caso destas viagens a trabalho é que, não adianta o que se faça para se livrar dele, o sem vergonha vem na bagagem. Então, é um tal de telefone que toca que não há quem aguente. Que Toutatis permita-me chegar logo sobre o Atlântico, para ver se, ao menos assim, se dorme. Parce que, pelo visto, a Lutécia está de baixo d'água.
The Lurker Says: The pessimist complains about the wind; the optimist expects it to change; the realist adjusts the sails. WARD
setembro 01, 2006
The Lurker vai a Veneza (não, não essa. A outra)
Ok. Então vamos aos fatos: educação não é prioridade e nem está na pauta das principais preocupações dos governantes de Pindorama. Nem dos atuais, nem dos anteriores e, configura-se, nada de muito novo deve acontecer em um futuro próximo. A educação é, neste país, mais que um sacerdócio, um ato de luta quotidiana contra uma conjunção de forças que buscam, por caminhos os mais vários, impedir seu avanço. Não interessa o que digam Paulo Freire, Emília Ferreiro, Marx, Vigotsky, Piaget e quaisquer outros teóricos. "As elite" e, note-se bem, a bem nascida e a "bem subida" não têm qualquer interesse em educar as massas (algo como 60 milhões de almas, descontando-se as crianças em idade escolar).
Eis que, então, eu me catapulto a um fórum cujo objetivo é discutir as grandes questões das políticas públicas em educação de adultos neste torrão. O evento, de periodicidade anual, é famoso nacionalmente por pautar o que será feito na área e por marcar posição junto ao governo federal quanto àquilo que se considera relevante sobre o assunto. Um conceito emanado das classes, da base, de quem realiza a atividade diária e que, espera-se, tem o pulso do que realmente incomoda na execução de suas atividades. Desnecessário dizer da minha expectativa em poder, finalmente, interferir diretamente com meu trabalho em uma esfera que trará resultados de grande impacto para a área.
A abertura, grandiloquente, cheia de autoridades, acadêmicos e experts, realizada em grande salão, com premiações e coisas do gênero, deixa no ar aquela sensação de que a coisa vai ser, realmente, da pesada. A expectativa aumenta. De repente o convite: temos uma sessão de relatos de experiências. Você tem que apresentar a sua. Vamos abrir um espaço exclusivo para sua fala. Platéia de 400 ou 500 pessoas. UAU. Mais lenha na fogueira.
Ocorre que, para o main event (e para o resto do encontro, pós abertura, diga-se de passagem) a

uma tenda, lona de circo, do lado de fora do edifício principal, no meio do gramado da UFPE. Gente, isso aqui é nordeste. Imaginou o calor? Não? Fez bem. Não teve. Chove a cântaros.... chovem cães e gatos.... como não seria de se esperar nessa época. Mas chove, chove o que Deus manda, para Kiko Zambianchi nenhum deixar defeito. As ruas da "veneza brasileira" ficam intransitáveis - as pessoas se atrasam - e a coisa começa a descambar.
Agora imagine este pobre engravatado (o único, além dos secretários de governo e seus

Em resumo, para quê, meu Deus do céu, esse povo inventa moda? A área já não é enxergada com muita facilidade. Existe toda uma problemática para ser tratada e você tem que ficar negociando com dificuldades práticas de menor importância, como se tem um morcego voando para todo lado, ou se o vento faz a chuva molhar metade da delegação de Mato Grosso e precisa-se de uma lona para impedir isso... saco. Aí reclamam quando eu digo que o que falta para essas coisas começarem a andar é menos Socialismo e mais profissionalismo. Bando de amadores. Não vamos chegar a lugar nenhum enquanto não se levar a educação menos com cara de política estudantil e mais com cara de irmãos Salesianos! Todo poder ao Ratio Studiorum!
The Lurker says: Simia quam similis, turpissimus bestia, nobis!
julho 15, 2006
De tempos em tempos aparecem essas coisas que os desocupados colocam na Intenet. Dessa vez a culpa foi do VP, que tirou isso sabe-se lá de onde...
Nome?
Athos de La Fére
Data de nascimento?
21 de dezembro de 1643
Local de nascimento?
Oloron-Sainte-Marie, Béarn
Residência?
Brasília - DF.
Olhos?
Castanhos
Cabelos?
Castanhos
Altura?
1,72 (segundo o Exército Brasileiro)
Destro ou canhoto?
Destro.
Ascendência?
Baiana e Carioca. Acima disso podem ser encontrados: Alemães, Espanhóis, Portugueses, Russos e Tupinambás.
Signo e ascendente?
Áries e Capricórnio (Tremei!)
Sapatos que usou hoje?
Fascar. Preto. Couro de Carneiro.
Fraqueza?
Choro feminino.
Medo?
Qui le ciel me tombe sur la tête.
Objetivo que gostaria de alcançar?
Haver contribuído para alguma causa que fizesse diferença, real e objetivamente, para a vida de outras pessoas. Não é necessário reconhecimento.
Frase que mais usa no MSN Messenger?
Arrête de me decrocher!
Melhor parte do corpo?
Nenhuma.
Pepsi ou Coca?
Bordeaux.
McDonald's ou Bob's?
Jambon beurre ou Quiche Lorraine.
Café ou cappuccino?
Bordeaux.
Fuma?
Socialmente.
Palavrão?
Não. É prova de pobreza vernacular.
Perfume?
Depende: para sentir ou para usar?
Canta?
De um tudo. E mal.
Toma banho todo dia?
Bien sûr!
Gostava da escola?
Afirmativo. Nerd é assim mesmo.
Acredita em si mesmo?
A mais das vezes, sim.
Tem fixação com saúde?
Pax Romana: Ela não me perturba, eu não a incomodo...
Se dá bem com seus pais?
Com a mãe, sim. Com o pai, quando vivo, também.
Gosta de tempestades?
Elétricas. Sim, muito!
No último mês...
Bebeu álcool: Sim.
Fumou: Sim.
Usou drogas: Não.
Fez saliência: None of your business.
Foi ao shopping: Sim.
Comeu um pacote inteiro de Oreos: Não. Mas um Oreo Mud Pie ia bem agora...
Comeu sushi: Não.
Subiu ao palco: Serve conferência? Se servir, sim.
Levou um fora: Sim.
Fez biscoitos caseiros: Come on, be serious!
Pintou o cabelo: Duh.
Roubou algo: Shampoo de hotel vale?
Já tomou um porre?
Perdi a conta.
Já apanhou?
Yep. Mais do que bati.
Já bateu?
Yep. Menos do que apanhei. Não recomendo nem um, nem outro.
Número de filhos?
Um. "Amamentado com pólvora".
Como você quer morrer?
Go tell the Spartans, stranger passing by,
that here, obedient to their laws, we lie.
Piercings?
Nem pensar.
Tatuagens?
Idem.
Quantas vezes seu nome apareceu em jornal?
Umas duas dúzias. Quem é que conta essas coisas?
Cicatrizes no corpo?
Uma no meio da testa.
Do que você se arrepende de ter feito?
Não me arrependo do que faço. Já do que deixo de fazer...
Qual sua cor favorita?
Azul.
Me fale sobre um talento ou habilidade que você tem e que eu ainda não vi ou descobri.
Na realidade eu sou um rato de laboratório, envolvido em um complexo esquema para dominar o mundo. Agora vamos andando, Pinky!
Qual sua disciplina favorita na escola?
História. Seguida de perto por Química, Biologia e Literatura.
Diga um lugar no qual você nunca esteve, mas que gostaria de visitar algum dia (aqui ou no exterior).
Dinamarca. Mas dizem que há algo de podre por lá.
Você é uma pessoa matutina ou noturna?
Eu sou uma pessoa???
Os astronautas pousaram mesmo na Lua ou foi tudo armação?
E isso muda em quê a estrutura do espaço-tempo?
O que você tem no bolso? (Ou, se não há nada no momento, que tipo de coisas geralmente estão lá?)
Dois celulares, dois molhos de chaves, uma carteira, uma caneta e uma lapiseira (eu uso terno)... :-)
Em 10 anos, você se vê... (termine como quiser)
... Aposentado.
Falta energia e você não tem um gerador. Isso quer dizer nenhum eletrônico: computador, TV, vídeo, aparelho de som, etc. O que você faz para se manter aquecido, contente e entretido?
Depende: eu estou sozinho?
O que você jamais comeria?
Fugu. Nem você, se tiver juízo
Sugira algo para ler, algo para assistir:
Ler: Frederick Forsyth
Assistir: Réquiem para um sonho. Mas é um filme que só se vê uma vez...
O que lhe irrita acima de tudo... Aquele momento terrível que faz com que você perca totalmente sua compostura e queira chutar, gritar e bater em algo com um porrete?
Injustiça e arrogância.
Admita, você não é perfeito... O que você faz e que deixa as pessoas irritadas?
Dizem que sou prepotente. Mas é coisa de gente invejosa... :-)
Nasceu em que dia da semana?
Não tenho idéia. Quinta?
Ator favorito?
Humphrey Bogart para film noir. Peter O?Toole para peças clássicas. Raul Cortez e Paulo Autran para peças nacionais.
Instrumentos que toca?
Violão, um dia.... não espere muito de mim hoje.
Internação em hospital?
Nunca, jamais, em tempo algum.
Religião?
Católico por falta de opção.
Qual seu aparelho eletrônico favorito? E qual aparelho você gostaria de ter?
Home Theather e GPS.
The Lurker says: moving on... there's nothing to read here...
julho 08, 2006
Existem poucas coisas mais chatas do que ter que fazer uma viagem para um lugar que, notadamente não se gosta. Mais ainda, quando todo mundo com quem você fala do destino acha que você está indo para a coisa mais divina da Terra. Então, deixo registrado para que não reste dúvidas: Maceió é o que existe depois que se cai do proverbial abismo, ao final do horizonte. É o local que os antigos navegadores imaginavam que um sem número de dragões, serpentes e outras feras mitológicas fariam suas naves em pedaços. Oh, terrinha! Acho que, tirando São Luis, é a coisa mais próxima do fim do mundo made in Brazil.
Como na maior parte do nordeste, o povo é extremamente agradável e receptivo. Até mesmo como uma "compensação" pela falta de recursos. Mas, também como na maior parte do nordeste, as dificuldades são perenes e, no caso de Alagoas, em especial no que tange à educação, acachapantes: o estado conseguiu roubar do Maranhão o lugar de pior colocado, considerando-se os resultados nacionais. Taxas de repetência e evasão que chegam a 70% em alguns casos, e de analfabetismo em mais de 26%, não ajudam em nada. E, com isso vem uma vitimização de quem não consegue enxergar uma saída no meio de tanta miséria.
Depois de três dias de degredo, esperava pelo menos molhar o pé na praia. Santa Clara disse que não, mandando uma manhã de sábado nublada. Os nativos avisaram que não devia ir ao mar, por conta de "contágios". ?Praia somente depois do terceiro dia de sol?. Hepatite? Não, doenças de pele.... sigh... e, unindo insulto à injuria, o Ara Ketu resolve hospedar-se no mesmo hotel em que estou "preso". Relpi!
Bem, estas são, então, as recomendações para quem, como eu, se descobrir arrastado para este canto. Como sempre, o guia do viajante aborrecido e mau humorado apresenta:
Onde comer: Divina Gula é um restaurante simpático em três "ambientes" - Calçada, família e um mais, digamos, reservado. Mesas na parte interna, com ar-condicionado e música ambiente, e externa, bastante ventilada. Recomento o primeiro para os solteiros e o último aos casais. É uma casa mineira com bem cuidado jardim na entrada e bonita decoração. Panelas de cobre, peças de artesanato e uma réplica de alambique original, que demonstra todos os passos da fabricação da cachaça. Serviço descontraído (pergunte pelo Assis e diga que fui eu que mandei :-). Faz parte da Associação Brasileira da Boa Lembrança e exibe nas paredes os pratos de porcelana pintados à mão. Vários artistas famosos já comeram na casa e deixaram simpáticas dedicatórias nos murais montados na entrada.
Onde ficar: O Maceió Mar Hotel é um hotel modesto, mas com uma boa localização na Ponta Verde. Bonita vista do mar (aonde os banhistas, como eu, não vão). O serviço é honesto e o preço razoável, incluindo café da manhã variado, que inclui iguarias da terra. Mas o que me encantou foi a rede WiFi. Em teoria, funciona gratuitamente nos quartos. Na realidade, é uma lesma se vc não se aproximar do hot-spot. Mas no Hall é uma bala a 54 MBps. Mesmo hotéis de melhor categoria levam um banho neste quesito.
The Lurker says - Anuncie neste espaço. :-)
outubro 16, 2005
A propósito de uma viajante, que vai passar uma temporada na Península Ibérica vamos a uma rápida passagem pelas terras da Espanha, shall we? Estive por lá pela primeira vez, pelos idos de 1990, retornando duas vezes depois disso em 95 e 98. Indo do sul para o norte, pude ter uma idéia clara das diversas "comunidades autônomas" como eles gostam de se chamar. Sim, a Espanha são cinco "países" dentro de um só (Castilla, Léon, Aragón, Cataluña e País Bazco), seguindo um tanto a linha que os suíços implantaram, só que não é uma federação.
Primeiro alerta: NÃO voe Ibéria. Atravesse o Atlântico a nado, volte na caravela de Colombo, mas NÃO voe Ibéria. A companhia é muito ruim, não somente por ser estatal, mas porque a manutenção das aeronaves é uma coisa lamentável. A comida é intragável e o tratamento é... bem... depois não diga que não avisei. Na dúvida, vá de TAP ou de Alitália que tem promoções interessantes, incluindo até descontos em aluguéis de veículos e coisas assim.
Então, como disse, vindo do sul para o norte, uma das localidades mais interessantes, sem dúvida, é Mallorca. Esta é uma das ilhas Balleares, que junto com Minorca, Formentera e Ibiza formam o quadrilátero de ouro do Mediterrâneo catalão. Das três a mais conhecida é Ibiza, por conta das posturas, digamos, liberais da população e, em particular, da pouca roupa com que os turistas circulam em suas praias. Ibiza é sinônimo de verão, gente bonita, noites sem fim e muito, muito dinheiro. As ilhas são famosas desde a antiguidade e envoltas em mito: teria sido lá que Hércules encontrou o jardim das Hespérides, aonde foi atrás dos famosos pomos de ouro e motivo pelo qual teria sustentado o peso do firmamento para que Atlas pudesse resgatar o que, no fim das contas, eram tão somente laranjas - e é por isso que as ilhas são tão ricas em cítricos. Mas chega de trívia.
Como quase tudo na Espanha, as Balleares são um território eivado de regionalismo e, da mesma forma que se observa no continente, possui inclusive seu idioma particular - dito mallorqui. O dialeto é bastante próximo do catalão e vale a pena tentar absorver alguma coisa. Vale a pena aprender algumas expressões idiomáticas para demonstrar interesse pela cultura local: como a maioria dos espanhóis, eles são muito ciosos de suas raízes.
As ilhas foram invadidas e ocupadas por quase todo mundo: romanos, bizantinos, mouros, vândalos, ingleses, you name it. Então esteja preparado para um mélange arquitetônico de fechar o comércio. E para uma vida cultural muito intensa, em especial à noite. Neste particular, uma casa noturna que merece sua visitação é a Pacha, que com seus três andares e diversos ambientes consegue ser bastante eclética. O lounge mais interessante é o que fica no segundo andar. A varanda também é especial - um refúgio para o calor de dentro. O serviço é de primeira mas os preços são escorchantes, não se assuste com os nove euros por um red label. Quase caí duro... literalmente.

A boa notícia é que sua carteira de motorista brasileira serve para dirigir na Espanha (pelo menos servia até 98). Vá em frente e alugue um Fiesta ou Mégane que compensa. Como você pode ver, as rodovias são poucas, mas um tanto concorridas. E o trânsito espanhol é quase tão ruim quanto o de São Paulo, de maneira que não deve lhe causar grande desconforto. Contudo, os locais são mais rudes no trato com os estrangeiros. Então, os pontos para visitar fora dos centros são: Valldemossa, Cartuja, e Ses Murteres (todos na seqüência da via C-710), Las Cuevas Del Drach, a Catedral e o Castell de Belver (muitas histórias de templários por aqui).
In a nutshell:
1) O que comprar: pérolas "fabricadas" Majorica. Fique atenta à qualidade e a esta marca específica. Existem outras similares, mas não caia na tentação: vende-se coisa de baixa qualidade e você só vai descobrir depois... bem depois. Valem também artigos de couro mais ao norte da ilha. E não deixe de parar em uma das diversas caves que fazem degustação de licor.
2) O que comer: Restaurante Ses Porxeres oferece cozinha típica da Catalunha - servem igualmente carne de caça. Mais elegante e um tanto pretensioso tem-se o Parlament - experimente o risoto de lagosta.
3) Onde dormir: Palas Atenea Hotel Mallorca Island - um quatro estrelas bem decente, com preços razoáveis e bom atendimento. Peça um quarto voltado para a praia e você não se arrepende.
The Lurker Says: Cataluña més que mái!
outubro 10, 2005
Neste sábado, 15 de outubro de 2005, minha primeira filha comemorará seus primeiros dez anos de vida. Concebida com carinho, sua gestação foi trabalhosa, cheia de cuidados, idas e vindas, atenções por sua condição de primeira; única em sua especial maneira de ser. A inexperiência complicava nosso avanço de pais, a ignorância nos dificultava a caminhada e a fez mais árdua do que deveria ser. Com o tempo, e o zelo, nasceu saudável e a observávamos com a esperança de quem vê toda uma vida pela frente - um mundo de possibilidades se abriu diante de nossos olhos. Tínhamos orgulho dela e ela nos correspondia, crescendo e mostrando seu valor a cada dia.
Fomos muito felizes no tempo em que estivemos juntos. Pude vê-la crescer e andar com suas próprias pernas, ter idéias, teimar como toda criança, passar por momentos difíceis e superar obstáculos por seus próprios meios. E a cada vitória, enchia-nos de orgulho. Muitos foram os sacrifícios, as horas sem dormir, as brigas e as alegrias também. A pequena se fortaleceu, ficou robusta - sua personalidade se firmava.
A lei é dura, mas é lei, já diziam os romanos. E, no fim das contas, foram leis às quais aceitamos nos submeter - e em última análise, ajudamos a escrever, porque não? Chegou o momento da separação. E esta foi sofrida, como toda ruptura, como aquilo que é imposto, mas necessário - era preciso; a marcha continua. Nada que foi criado com tanta atenção e carinho poderia ser deixado para trás sem algum sofrimento. Ficou-nos a saudade dos tempos juntos. Mas é preciso seguir em frente.
A distância não nos afastou, contudo... apenas prosseguimos acompanhando sua evolução ao longe, vendo-a ganhar asas e galgar novos caminhos, agora levando apenas o espírito, a marca de seus pais. E, a cada período, novas pessoas vinham se agregar a seu conjunto de amigos, participantes de seu crescimento, criadores e criaturas, dentro do mesmo ciclo, de vida e de aprendizagem. Pessoas essas que, como eu, ao final de seu ciclo também se afastavam, mas que não a perdiam de vista. E que também diziam da importância de ter partilhado com ela uma parte de sua vida, de tê-la conhecido.
Dez anos... e se passaram como dez dias. Nesta década, centenas de amigos chegaram e saíram de sua vida. Pessoas que trabalharam, estudaram, aprenderam, amaram, lutaram e venceram, de suas maneiras particulares, e que dela tiraram o tanto que colocaram. E que nela também deixaram um pouco de si. Alguns mais afortunados, dela receberam muito mais do que investiram. Ouso dizer que sou um desses, aos quais, quando é dado saber de uma nova vitória, de um novo passo, inflama-se de orgulho - por seu trabalho e pelo dos outros. E isso, como o bem que se faz e o amor que se dá, de peito aberto, é o que faz valer a caminhada. A vida não é o destino, mas a caminhada.
Enfim, parabéns PRAXIS, nossa filha. Erguemos nossas taças em sua homenagem, desejando que, assim como estes primeiros dez anos, outros, muitos se sucedam. Desejamos a você os desafios, a garra, a coragem e a força para continuar se desenvolvendo. Que continue a deixar sua influência em muitas mais vidas, como fez na minha e na de tantos outros. Que possamos ouvir que se criou o diferencial competitivo dos profissionais aperfeiçoados sob suas asas. Que a criatividade e a ousadia continuem a ser a sua marca. E que Deus a abençoe.
**** UPDATE **** 16/10/2005
No dia de ontem, 15 de outubro, pela manhã, fiz veicular o texto acima na rede. Não esperava, nem por hipótese, que a reação fosse ser da ordem que se deu. No fim das contas, na parte séria da festa, o texto foi lido para a audiência geral pela atual presidente da empresa.
Mixed feelings: escrevi apenas para dizer algo que, em minha opinião, era interessante que se registrasse, não para ter este tipo de publicidade. Mas achei interessantes as reações de amigos antigos e novos.
**** END UPDATE ****
The Lurker Says: Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris
(Lembra-te, homem, que és pó e em pó te tornarás)
agosto 21, 2005
#### Warning - Long Post Ahead ####
Logo no início da narrativa havia ainda alguma dúvida sobre a eventualidade da mal-amada ter visto de entrada nos EUA. Saibam, pois, todos que o presente lerem que a ressaca persegue os ébrios contumazes, e possivelmente os eventuais, agora em três continentes... Bolas. De repente eu tinha certeza que todos os segredos da administração Clinton estavam lacrados em meu crânio. Devia ser por isso que estes pequenos gnomos republicanos tentavam abri-lo a golpes de machado...
Desci à deli em frente do hotel. Estava fechada: problemas com o gás encanado. Bem, não é como se faltasse onde tomar o desjejum em NY. Então o McHale's Café, convenientemente ali perto deve ser o canto interessante do momento... se o problema do gás não atingir a rua inteira... O Café fica na 46, com indicação de existência dada por um velho e vermelho letreiro de néon: RESTAURANT (no, really? You don't say!) O McHale's é um restaurante à moda antiga, não exatamente uma deli convencional. Uma de suas vantagens é estar fora do circuito turístico então, fora o eventual estudante da CUNY você deve ter a paz de não ser importunado pela multitude de turistas malcriados que assaltam NY pelo meio da semana. E, no meu caso, foi uma boa ocasião para bater um papo com alguns locais (Go Peckers!). Segundo a crônica, o McHale's permanence o mesmo desde a década de 50 - go figure. Dois Colombian Black extra-short, um bagel com bacon extra-crisp e um balde de capuccino extra-large depois, os elfos republicanos parecem ter perdido seu élan e resolvido ir amolar Miss Lewinsky. Good ridance!
Quarta-feira era dia de banco. Minha tia havia me pedido que trocasse cerca de três mil dólares em notas que, segundo ela, estavam antigas. Fui ao Banco do Brasil somente para descobrir que ele agora não fica onde morava antes, na 7th com 42, mas no Rockfeller Center, entrando pelo nº 600. Ora, acontece que o banco não presta este tipo de serviço. Aliás, nenhum banco faz isso! Ou melhor, faz, mas cobra uma taxa de 18% (e nós reclamando de nossos bancos). Agora, cabe uma menção honrosa a uma moça chamada Sônia, do BB/NY. Uma cortesia exemplar e uma simpatia de pessoa. Permitiu-me inclusive ligar para o Brasil para confirmar a operação que, claro, foi abortada na origem.

Eu bem que pensei em dar uma fugida no circuito Off Broadway, área onde sucessos como STOMP e RENT nasceram originalmente. Mas, com este clima fora de esquadro, achei melhor ficar com o conhecido. De mais a mais a única coisa que me havia interessado já estava lotada. Dentro do convencional tínhamos Billy Crystal com seus '700 sundays'; 'Spamalot', baseado, entre outras coisas no filme Camelot, de Monty Python, com texto de Eric Idle; 'La Cage Aux Foles', com o Daniel Davis, que é um ator de comédias absolutamente hilário (mas a peça estava em cartaz no Marquis, que sempre é muito disputado, então é melhor nem pensar). Acabei optando por 'The Producers', com texto do Mel Brooks.
The Producers é uma comédia de erros em que dois produtores da Broadway decidem montar um musical para enriquecer. A lógica, para que isto ocorra, é a de que tudo dê errado com a peça e que eles embolsem o dinheiro dos investidores. Para isso,

Animado com o início da noite, decidi esticar no bar do Hotel Edison, que sempre proporcionou boa diversão, com trechos de musicais sendo tocadas e cantadas pelos freqüentadores. Cheguei por volta das 8h45 e sentei no único banco disponível no balcão. Ali conheci Laura, americana de uma cidade perto de Boston cujo no me foge, e sua mãe Patrícia. Ambas de passagem por NY para resolver problemas familiares e aproveitando a cidade que apreciam pela vida cultural. Laura é uma moça de seus 20 something de cabelos pretos e olhos verdes, um tipo interessante, mesmo para padrões brasileiros - mas total e irremediavelmente doida, como se verá a seguir. Cuidando do trio tínhamos o jovem Bob Strassel e no piano a talentosa Karen Brown. E assim apresento nosso dramatis personae para esta cena.

Laura, em seu segundo drinque já estava um tanto 'solta' e resolveu ir fumar. Em NY se você quiser, tem que ir fumar fora do estabelecimento - novos tempos, novas leis. E fique feliz. Neste ínterim, prosseguimos o agradável colóquio a três sobre a experiência de Patrícia na qualidade de alguma coisa grande no sistema educacional de Boston. Ficou muito impressionada pelo fato de eu trabalhar para uma agência da ONU - ela acredita que o papel dos EUA na organização precisa ser levado mais a sério pela administração do arbusto.
Para espanto de Patrícia sua filha retorna da rua com Samuel, um homeless que ela conhecera em sua pausa para tabaco, enquanto aquele vendia jornal (evening edition) a 27ºF. Pede então um 'screwdriver' para ajudar a aquecê-lo. Bob, que é um cavalheiro, mas também é um profissional e sabe as conseqüências que este atendimento pode implicar, traz o drinque, mas pede a Samuel: Make it a quick one.
Quantas vezes você teve a oportunidade de ter uma conversa civilizada com um homeless em Nova Iorque? Bem, eu tive, em uma situação de relativo conforto. E, com minha irrefreável curiosidade de cientista social, inquiri sobre diversos aspectos de sua vida, que débâcle o levara à atual condição e por aí fui. Ocorre que Samuel é mais um refugiado da administração Bush e sua política de exportação de empregos. Bem, alguém tem que perder... e no caso é a classe baixa e negra estadunidense. Pitty. Lá pelas tantas Samuel interrompe a conversa e, de uma maneira extremamente elegante, consegue faz sua saída à francesa. O alívio de Bob fica estampado na cara quando me traz meu terceiro Martini... a esta altura nós já estávamos chapinhas: This is on the house, ele diz.

Karen engrena de Lion King, o musical da Disney que desta vez está em cartaz na Broadway. Nisso, Laura que havia saído com um certo Bill, supostamente ator que fez um 'try-out' para um comercial de empresa financeira, retorna com o telefone do bicho em um guardanapo. Com a classe de um peregrino que traz um escalpo pela mão, mostra-me o negócio e emenda algo semelhante a 'how easy can man be'. Aí já foi demais. O que éramos Bob e eu? Duas alfaces? Nesse momento Laura ganhou seu selo de louca-de-pedra e o pobre Bob guardou seus ferormônios. Pouco depois, Patrícia vendo que a filha já tinha tomando 'one too many' recolheu-a ao apartamento. No fim das contas, a mãe foi companhia muito mais interessante do que a filha. Classe e refinamento é uma coisa que vem com a experiência... Figures... Como diria Bernard Shaw 'A juventude é uma coisa linda. Pena ser desperdiçada nos jovens'. :-)
Com a saída da dupla, Bob a esta altura já me servia free martinis by the dozen e o bar se esvaziava: 'last round, every one! Bar is closing'. Disceramente ele diz que isso não vale para mim... Resultado: ficamos ele, Karen, a gerente do estabelecimento e eu de papo até cerca de três da manhã. Desnecessário dizer que no fim das contas, como Laura, eu também estava com mais de um drinque além da conta. Quando saímos, novamente agradeci meu bom senso de ter escolhido um local próximo ao Plaza... fui trupicando até o hotel, arrastei-me até meu quarto e desabei, mal tendo tempo de tirar capa e demais assessórios que me haviam protegido da fúria dos flurries ensandecidos na madrugada gelada da Broadway.
The Lurker Says: Words are loaded pistols. (Jean Paul Sartre).
A seguir o cadeno XXII - Should I stay or should I go?
agosto 15, 2005
Uma coisa interessante, after a fashion, é a 'anima' que parece estar regendo a lógica americana estes dias. Hmmm...

Quanto mais me lembro do processo de tomada de poder pelos nazistas em 32 na Alemanha, mais parecida eu acho a situação por aqui. Ou seja, o pessoal 'do contra' se manifesta pouco e os que mexem a sério tomam uma queimada grossa, como acaba de acontecer com um diretor e três altos executivos da ABC, por conta de documentos que, segundo o stablishment são falsos. Devem ser mesmo: falam mal do 'serviço militar' prestado (?) pelo 'shrub'.
Dediquei a manhã a algumas visitas necessárias e almocei num simpático café na esquina da 7th com a 57W. Acho que foi a primeira refeição convencional que realmente agadou-me, mas o prato era mexicano (quesadillas). Naturalmente eu andei comendo direitinho por aí, mas em restaurantes de gabarito, como o Tavern on the Green e a preços que valha-me-Nossa-Senhora. Apesar de altamente edible, o pico de galo e o sour cream que me fazem no Brasil é muito mais interessante. Gostei do negócio, mas devia ser a fome.
Na realidade, estava procurando o Carnegie Delicatessen que, segundo algumas conversas, era a bala que matou Kennedy em matéria de Deli. Fica, lógico, ao lado do Carnegie Hall. Não se deixe enganar pela aparência externa ordinária: o interior é mais ordinário ainda... Mas a comida é muito boa (FINALMENTE!). Experimente o sandwich de Pastrami 'home made' e depois me conte. A mesa que me deram (12) foi interessante para ficar viajando na arquitetura.
E o tempo, que vinha se comportando como um cavalheiro até agora, resolveu transformar-se em um rebelde sem causa. Começou a nevar de novo. Nada contra, antes pelo contrário.Mas que pelo menos seja neve decente e não estes flurries que derretem tão rápido e me encharcam a cabeça. O tempo ruim estragou minhas andanças de um lado para outro da ilha e corri para o hotel às 18h00, antes do previsto, portanto.
Felizmente o Birdland fica a menos de uma quadra do hotel. Então, foi o tempo de dar uma aquecida e tomar um banho rápido, antes de cair na noite! Os flurreis viraram uma chuva gelada e fina, mas correndo do Plaza passei quase incólume. Pedi para ser sentado (ui!) fazendo graça para a atendente, ganhei um sorriso e um lugar na fila do gargarejo... Hmmm... acho que agradei as batatinhas, como diria o comercial. O ambiente continua o mesmo de dez anos atrás: iluminação focada e direta sobre as mesas, para o palco e mais nada. Aqui o Jazz e o Blues são tratados com o respeito da música clássica e sempre são grandes intérpretes que se apresentam. Os instrumentos sempre são acústicos e o tratamento técnico é impecável. Antes da primeira apresentação, pedi meu Wodka Martini (shaken, not stirred) que aqui é excepcional.
A seleção da noite começou muito bem, conduzida por Joe

Para quem ficou curioso com a performance do primeiro ato, segue a lista:
1) Charleston (Louis Armstrong);
2) Tenderly (Billy Holliday);
3) Deeper Mouth Blues (Louis Armstrong);
4) I can't believe that you?re in love with me (J. McKew & D. Fields);
5) We're singing that music (Louis Armstrong, 1936);
6) Every Thursday (Duke Ellington).
Intermission
7) A Train (Louis Armstrong - medley);
8) Sloppy Joe (Benny Powell);
9) Shakespeare suite (Duke Ellington);
10) It don?t mean a thing (Louis Armstrong).
Apenas para registro: Deeper Mouth era um dos apelidos de Louis Armstrong. Daí o nome da música # 3.

Seguiram-se mais dois martinis e um Oreo Mudpie Cake para matar de inveja os amantes do chocolate. Decidi ficar para a segunda apresentação da noite, que era de uma 'jazz band' completa com seus vinte e tantos instrumentistas. Infelizmente, meu estado etílico não permite que as notas que fiz no resto da noite sejam de grande valia... a não ser que o Chico Xavier faça as honras e psicografe. Mas foi das melhores apresentações que já vi. Então, deixo à imaginação do leitor o final da noite de Jazz e blues em NY. Às duas da manhã, enquanto me arrastava, coberto de flurries, de volta ao hotel, novamente agradeci o fato do Plaza ser tão próximo do Birdland... :-)
The Lurker says: Only the guy who isn't rowing has time to rock the boat. (Jean-Paul Sartre)
A seguir o caderno XX (O sagrado e o profano)
agosto 14, 2005
Recebi a segunda-feira de extremo bom humor... O frio continuava, sem neve agora, com céu claro e, com a cidade a meus pés, vamos ao que realmente interessava: trabalhar na tese. Em 1997, quando estava ainda às voltas com o mestrado fiz uma viagem com a idéia de dar uma espairecida e cujos frutos mais interessantes e efeitos perduram até hoje. Ocorre que, então, ao invés de re-fazer os diversos programas de índio disponíveis (Liberty Island, Empire State and the like) fui enfiar-me na NYPL, NYU, Columbia, CUNY e nas centenas de livrarias que enchem o Village. O pessoal que acompanhava minhs andanças não entendia nada: 'porque este não vai ao Bloomies?'. Bem, basicamente porque prefiro as Galeries Laffayete ou o El Corte Inglés. Mas isto é outra história.
Iniciei com uma andada brutal, da 42 até a B&N na 22nd com Lexington. Foi um pequeno erro de cálculo (de 20 quadras?): eu esperava encontrar uma estação do metrô em uma determinada esquina ? mas errei o lado da avenida. Como não encontrei a entrada, continuei andando... Nova Iorque faz isso comigo. Fico de tal forma absorvido com a diversidade de tipos humanos, de informação visual que, quando paro e olho o relógio já se foram várias quadras. Aí perco a vontade de enfiar-me debaixo da terra e prossigo.
A B&N da Lexington tem uma seção muito interessante sobre os temas que me interessam e, principalmente, no que tange aos livros textos, revende aqueles usados e bem cuidados por universitários. Os preços podem ser da ordem de 55% do preço de capa. Não é um negócio a ser perdido. Foram cerca de três horas de deleite acadêmico, escolhendo e desescolhendo uma infinidade de autores. Foram mais de US$ 300,00 em livros (o dólar estava a R$ 3,20, lembrem-se). O interessante é que, como pude provar minha residência no Brasil, tive um 'detax' de 5%. Pena que não aceitaram minha carteira da UnB como prova de ser estudante, pois aí o corte subia para simpáticos 15%... Pitty.

Já que estava animado para andar, agora, contudo, com diversos quilos de livros para carregar, segui descendo na direção de downtown para resolver uma solicitação de produtos de pintura na região de China Town. Não, não é minha parte favorita da cidade, exceto por uma loja de 'army surplus' em que nunca entrei, apesar de ter passado na frente uma dezena de vezes. E lá fui eu, rumo a Pearl e Canal Street. Nova Iorque é uma cidade padrão americana, com blocos e quadras muito bem dimensionados. Exceto justamente nesta região, que começa na altura do Financial district e desce até Battery Park. Basicamente este é o ponto em que a cidade começou, então a desorganização das ruas é mais interessante. Parece uma cidade dentro de outra.

A meio caminho comecei a ficar meio tenso, incomodado e chegando em Lincoln Square ( foto) dei por falta delas. Na medida que descia, a ausência se fazia cada vez mais pesada... Não que eu realmente tivesse alguma apreciação pelos dois monólitos de aço e concreto, mas a presença era algo, como direi, opressivo. Eram edifícios enormes e tome andar para se aproximar, mas elas não chegavam mais perto por causa disso. O fato de ter visitado a cidade cerca de seis meses antes do 9/11 não ajudava muito e, justamente tinha sido esta a ocasião em que havia conhecido Linda Rubey e Dick Dulancy que moravam perto da zona proibida, abaixo da 13th. Agora, era estranho... Pensei bem.... Não fui ao ground zero.
Uma pequena tontura lembrou-me que eram 13h00 e eu não tinha sequer tomado café. Starbucks para todos! Vamos pegar um Colombian Black com raspberrie muffins. Açúcar e cafeína. A expressão da cultura local. Como digo, quando em Roma, vira-se canibal.
Resolvidos os entraves na Pearl, metrô rápido de volta ao hotel e corrida sem parar para pegar a Biblioteca da Columbia aberta. Sucesso! Mais três horas de 'book-worming'! Centenas de autores! Discussão interessante com um professor incauto que resolveu conversar a cultura da América Latina... Mais um que sabia que a capital brasileira NÃO é B.A.... Eles estão progredindo. Já às 17h30 meus ingressos baratinhos (lá no ninho da coruja) para o Phantom tinham deviam ter sido deixados na Consiergerie, conforme eu havia instruído. Bem, vou poupar a descrição da 'longest play on Broadway' por dois motivos. Primeiro porque tem gente que faz isso muito melhor do que eu e segundo porque, certamente, está na lista de 'musts' de quem vai à Big Apple. Vá e veja é o meu conselho. Uma pena que o Les Miz tenha saído de cartaz: Cameron MacIntosh foi um hit astronômico. Apenas que foi uma apresentação sem falhas (mas sem surpresas nesta terceira vez). Pelo menos pude cantar lá de cima, junto com a japonesada que estava por perto... :-)
Enfim, um dia perfeito, mas cansativo after a fashion, tinha que terminar com meu amigo 'Ol' Blue Eyes'...
How About You?
Writer(s): B. Lane/R. Freed
Performer: Frank Sinatra
I like New York in June, how about you?
I like a Gershwin tune, how about you?
I love a fireside when a storm is due.
How about you?
I like potato chips, moonlight motor trips, how about you?
I'm mad about good books, can't get my fill
And James Durante's looks give me a thrill
Holding hands in the movie show, when all the lights are low
May not be new, but I like it, how about you?
The Lurker says: Three o'clock is always too late or too early for anything you want to do. (Jean-Paul Sartre)
A seguir o caderno XIX (Nighty, nighty?)
agosto 13, 2005
Um pequeno update do dia anterior: com a correria da saída de Philli, perdi TODAS as minhas chaves, que deixei sobre a cama no Marriot na hora do pânico. Inúteis tentativas de fazer com que as mesmas me fossem restituídas seguiram-se no decorrer da semana. Por hora bastou-me chamar o chaveiro do hotel que, com uma gazua, resolveu em menos de um minuto meu "padlock embarassement", destruindo minha fé nos cadeados da Papaiz. Ele era um alemão falante, o que é uma contradição em termos, mas faz parte do "melange" que é NYC. Fiquei assombrado com a velocidade dele e, feliz em não ter de estuporar minha bagagem, enfiei-lhe cinco dólares na mão.
Com o fuso (confuso) horário ainda virado, acordo as seis da manhã, hora local. Olho a janela e, pelas cortinas abertas, descubro uma fina camada de gelo formada no vidro, do lado de fora. Neve limpa, fina e suave havia se depositado nos telhados no decorrer da noite. Linda vista, sem dúvida, mas que provavelmente não sobreviveria além das 9h00.
Animado com o início de um domingo desta ordem, pulei em minha capa cinza, meu cachecol especialmente tricotado a uns tantos anos e voei porta à fora. Note-se que, pela idade e pela milhagem, esta capa poderia ir e vir sozinha de Manhattan, dado que me acompanha desde 1992. Atravessei a rua para a Deli em frente do hotel (a deles é lamentável e a estadia não inclui café). Quem se importa? Pedi um lox-creamcheese-bagel, um café e fui andar. Sim, a comida tem o gosto da

Naturalmente, ao nível do solo, a fina camada de neve, aonde esta sobrevivia, já estava pouco atraente e suja. Em alguns pontos, era lama pura, ou água suja, mas os transtornos que isso causa ninguém nunca conta. O caso é que, em um domingo, de manhã cedo, quase nada acontece em NYC, mesmo que a cidade nunca durma (deve ser um cochilo quando ninguém está vendo). E isso pode ser comprovado em Times Square que, sempre tão frenética, permitia inclusive sentar no meio da pista do entroncamento da Broadway.
Preferi, contudo, sentar-me no meio fio e, com meu café ao lado, fiquei ouvindo o silêncio, quebrado de vez em quando pelos ruídos da cidade ao longe. Que coisa mais improvável e, até certo ponto, impressionante... Uma visão diversas vezes tratada pelo cinema em filmes de holocausto, como "The Omega Man" ou, em breve passagem, no final de "Devil´s Advocate". Fui o próprio Charlton Heston por uma dezena de minutos de tranqüila meditação em um dos eixos da capital do mundo. Mixed feelings... Strange contemplations. music, courtesy of David Mann & Bob Hilliard (1963) by way of Mr. Frank Sinatra.
In the wee small hours of the morning
While the whole wide world is fast asleep
You lie awake and think about the girl
And never ever think of counting sheep
When your lonely heart has learned it?s lesson
You?d be hers if only she would call
In the wee small hours of the morning
That's the time you miss her most of all
Levantei-me e, com meu Sinatra na cabeça, segui para a Grand Central, passando pela NYPL

Saco. Ocorre que você ainda tem que comprar o cartão nos quiosques e, depois, na medida do necessário, carrega-los nas "vending machines". Como nada disso é explicado, levei dez minutos para entender a dinâmica, cinco dos quais tentando fazer com que a vending machine aceitasse meu dinheiro, sem o cartão (2 pontos para o neanderthal, duh!).
Finalmente chegando ao MET pelas 9h00, das poucas coisas que abrem nesse período de tempo e dia, surpreendo-me com minha falta de sorte: a exposição de destaque é sobre a China (imperial, é verdade, mas um assunto que não me atrai nem um pouco). Volto minha preferência para uma coleção de bronzes franceses, cujo processo de manufatura está sendo cuidadosamente debulhado e esclarecido com o auxílio da tecnologia. Ponto para uma coleção de impressionistas, cronologicamente agrupando Monet, Matisse, Cezzanne, Degas, Pissarro e outros que não me recordo. Aprecio especialmente um Pissarro cuja reprodução tenho em meu escritório.
O início do almoço foi um DeSaStrE. Meu restaurante favorito foi transformado na extensão da seção estrusco-romana... Era um oásis, com certo requinte e charme, fugindo da multidão de nipônicos ensandecidos e suas câmeras nucleares de mil gigabites. Será que somente me restará a cafeteria e o "self service"? O Balcony Bar, ainda no inverno, somente funciona nas sextas e sábados e são uma boa pedida para o fim da tarde, quando se toca Jazz e clássicos. Boa acústica, tem o Main Hall.
Felizmente não. O Petrie Court e sua agradável vista do Central Park foi incrementado para pessoas que, como eu, não estão particularmente interessadas em sanduíches frios e coca a sete dólares. Recomendo fortemente a Bruschetta (servida com ovos pochês, presunto serrano, cebolas caramelizadas e batatas sautés, em molho holandês), acompanhada de uma taça de cabernet. Tudo a honestos dezenove dólares, plus gratuity.
Descobri o paradeiro de Ernest, o cavalheiro de bigodes à moda de Salvador Dali que era quase que uma marca registrada no antigo restaurante. Conta a lenda que fez o caminho que a Nanny gostaria de ver sua mãe tomar: mudou-se para a Flórida. Eventualmente retorna NY e mantém boas relações com sua antiga equipe no MET.
O resto do dia foi dedicado a atividades similares, como um de meus "personal favorites" a seção de armas e armaduras medievais. Afinal, na qualidade de colecionador de espadas e sabres, o processo de fabricação, conservação e outras coisas relacionadas a armas antigas interessa-me sobremaneira. Assim, fiquei sapeando uma apresentação de ?alto nível? dedicada a um grupo de especialistas franceses. Eles foram corteses (à sua maneira) e fizeram de conta que eu não estava lá. Ao final ainda pude conversar sobre "minhas dúvidas" (très mechant, ce mec, n´est pás?) com o guia, um francês de Marselha.
Enfim, às 18h30 peguei meu rumo, andando da quinta avenida de volta à meu canto, para encontrar uma Times Square como normalmente é retratada: esfusiante, agitada e repleta de gente. Grande o contraste entre o observado na manhã, com a multitude usual de turistas e domingueiros (você não odeia turista com cara de turista?). Eu, pessoalmente, não consigo olhar uma segunda vez para uma pessoa com boné "Eu "coração" NY".
Passei na deli, pedi um subway sandwich (com o eterno gosto da embalagem, o mesmo da manhã, agora com molho ranch) e fui para meu canto assistir Enterprise e subseqüências... já às 19h30 a noite não estava para mim e o (con)fuso horário jogava contra a torcida... Cya!
The Lurker says: Everything has been figured out, except how to live. (Jean-Paul Sartre)
A seguir o caderno XII (Surprise, it´s me again!)
(1) Ok, ok é uma estátua em tamanho natural de José Bonifácio de Andada e Silva, doada pelo governo Brasileiro em 1958.
julho 23, 2005

Na manhã seguinte, não surpreendentemente, quase que perco a hora! De meu simpático quarto, que dava visada direta para o relógio do city hall (foto), já vou perdendo meu vôo. Aliás, este defeito de imaginar horas estranhas para os aviões me acompanha a tempos e, desta vez, botei na cabeça que o vôo das 6h45 era pelo meio dia. Típico. Felizmente o fuso horário fez com que eu acordasse mais de uma hora antes e a ficha caísse. Contudo, de nada adiantou a correria e a pressa do taxista na direção do Philli 'international' porque tivemos que ficar esperando mais de 30 minutos pela imbecil da aeromoça que seria responsável pelo vôo. Sim, o avião não decola sem a figura e não, nem tudo nos EUA funciona como deveria ou sai no horário, como pensamos em Pindorama. De mais a mais, a tal criatura pediu para ser desagradável e entrou duas vezes na fila.
Fui conversando com um ex-comissário de bordo da Pan-Am que se cansou de seus compatriotas e mudou-se para o Canadá (todos os comissários tem que ser, digamos, afetados?). Dizia ter morado 'com seu namorado' no Rio de Janeiro e o papo agradável compensou a estupidez da American Airways. Aliás, eu queira enforcar quem me arranjou um vôo Philli-Washington-NYC. Nota mental: next time, take the train.
Os americanos sempre foram meio neuróticos, mas depois que viram dois aviões a baixa altitude no meio de NYC ficaram piores. Então, você tem que ficar sentado em sua cadeira a contar de 30 minutos da aterrissagem em Washington (e da decolagem, também, claro). É isso aí: melhor não ter dor de barriga, porque, segundo eles, 'se alguém levantar o avião volta'. Não sei para que tanta onda: o dia estava um lixo e a idéia de ficar rodando em cima da capital não agradava ninguém mesmo - talvez eu devesse ter ligado para o Soma, que pelo menos me faria companhia. Paciência - deixemos Washington de lado, que não é, no fim das contas o objetivo maior desta narrativa.
Enfim, Nova Iorque. O John Kennedy International

No fim das contas, foi uma opção 'econômica' e os efeitos satisfatórios, apesar de ter que ficar esperando o ônibus no frio e de acabar crashing em um hotel já conhecido, que tem como principal atrativo ficar do lado do Majestic. Acho que o motivo principal da escolha foi ter andado dez quarteirões puxando minha mala e que a paciência com o frio já ia se esgotando - se bem que acabei por descobrir um canto que merecerá novos estudos (hotéis históricos - 44 com alguma coisa acima da Lexington). Com minha veia judia acesa, consegui um bom negócio de tarifa balcão e um quarto bem decente, com vista para, ora, vista para o nada... para a outra ala do hotel. Se bem que, se você se debruçace na janela, via um pedaço da Broadway. Só que as janelas são lacradas no inverno... O importante é que, finalmente, estava instalado e pronto para as novas aventuras da cidade que nunca dorme.
The Lurker says: Freedom is what you do with what's been done to you. (Jean-Paul Sartre)
A seguir o caderno VI (It´s up to you, Manhattan)
abril 13, 2005
Depois de acomodado no Marriot, devidamente banhado e alimentado, mas ainda com o Jet Lag bafejando meus calcanhares, fui ao local do evento. Estes congressos nos EUA funcionam mais ou menos assim: selecionam um grande hotel para ser a base - onde as exposições vão ocorrer e os medalhões vão falar - e outros hotéis ao redor deste, para eventos menores (que podem ser até mesmo em suítes ou salas pequenas a depender da audiência esperada). Neste caso, além desta estrutura lançaram mão do centro de convenções de Philli que é, com o perdão da má palavra, monstruoso. Ocupa um quarteirão inteiro e tem três andares.
Foi somente aí que a ficha caiu: eu imaginava que o congresso era algo como estou acostumado no Brasil ou o outro que fui em Salt Lake City - algo em torno de seus dois mil participantes. Ledo engano: o da ASSA é muito grande (para meus padrões) e tinha algo próximo a dez mil inscritos. Gelei.
Minha fala era bem no meio do dia e, como estava lá de véspera, fui ver como era a sala que me foi designada. A dita era IMENSA... cadeira para todo lado... só de entrar deu taquicardia. E aí a insegurança bateu: tinha meia hora para falar para uma audiência enorme - e miseravelmente não tinha mais a certeza e convicção que levara comigo do Brasil. Can you spell panic attack? Voei de volta para o Marriot e para a segurança de minhas anotações e documentos. Desnecessário dizer que a noite foi passada em idas e vindas sobre a apresentação, enquanto maldizia a infeliz idéia de não ter levado meu notebook para alterações de última hora.
Para encurtar a história, no horário marcado lá estava eu. Apresentei-me à Dra. Peters, responsável pela mesa, e à Dra. Berkeley, sua assistente, que ficou interessadíssima no fato de eu ter vindo de tão longe. Informaram-me que meu tempo tinha sido estendido (ai meu Deus) porque o indiano que ia falar antes não comparecera... Enfim: tudo deu certo - passei meu recado, recebi sugestões, comentários e fiz contatos interessantes o que, no fim das contas, é o que interessa e o motivo dessas coisas. Infeliz (ou felizmente) caímos no time slot de um figurão e a sala imensa ficou a um terço da carga. Para mim, já era gente demais.

O mico da hora foi eu ter levado disquetes com a apresentação. Este tipo de mídia não se usa por lá a tempos e nem mesmo os computadores têm drives de 3,5''. O hit do momento são os "pen drives de 5Gb". Senti-me um neandertal. O bom e velho CD resolveu salvou minha cara e resolveu o que era necessário. Na foto ao lado, da esquerda para direita: Robin, Eu, Alisa Watt, Lois e Patricia Grace-Farfaglia.
Depois da coisa acabada fomos, palestrantes, mesa e mais umas cabeças coroadas, almoçar. Para os nativos eram apenas 13h00 mas para mim eram 16h00 e o JL estava mordendo a minha sombra - quase desmaiando de hipoglicemia. O grupo era muito animado e conheci o Dr. Eckers, o qual relatou ser ele o responsável pela sobretaxa no suco de laranja brasileiro exportado aos EUA desde o tempo da administração Reagan.
O caso é que a comissão do ministério do Comércio lá deles era composta por ele e mais cinco eleitos. Contudo, três dos postos estavam vagos quando o pedido chegou à área. Um dos três comissários restantes, por ser representante justamente do lobby do suco de laranja, declarou-se impedido. A votação então ficou no um a um, dado que o outro membro votou contra a taxa. Só que, lá no Tio Sam, quando uma decisão empata, ganha a proposta que seja mais favorável a ELES (lógico). Então, foi ele sozinho quem criou esta bagunça tarifária que perdura até hoje...
O Dr. Eckers disse que conhece bem o Brasil, esteve inclusive em Brasília, discutindo coisas importantes e emendou dizendo ser um historiador. "Certo" disse eu "mas a sua história é bloquear o meu suco!" Todos riram e completei "Mantenham-no afastado da minha soja!". Acho que o humor foi a forma mais elegante de mudar de assunto. Na realidade eu queria fulminá-lo on the spot, e virar herói dos citricultores brazucas. Apesar do papo do suco, a companhia era agradável e não tive que esclarecer que o Brasil não fica entre Gana e o Nepal, apesar das necessárias atualizações sobre o país. Ao final, o almoço foi a conclusão de uma manhã interessante e a nota triste permanece apenas para a comida estadunidense: continua com gosto de coisa alguma.
The Lurker says: Life begins on the other side of despair. (Jean-Paul Sartre)
A seguir o caderno IV (O velho Ben e a taverna da cidade)